Texto de Guillermo Navas Camacho
Para a Save the Children UK e seu programa no Brasil, a promulgação da
Lei no 10.639/03 – que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB) e inclui no currículo oficial dos estabelecimentos de ensino
básico das redes pública e privada do país a obrigatoriedade do estudo da
temática “história e cultura afro-brasileira” – é essencial para eliminar a
desigualdade presente no sistema educacional brasileiro. A lei se torna efetivamente
mais importante e orgânica porque sabemos que foi fruto de
demandas e lutas históricas dos grupos que enfatizam a necessidade da implementação
e continuidade de políticas que procuram reparar danos causados
por séculos de violência racial e discriminação.
Essas políticas devem apontar
e construir um caminho para uma sociedade onde prevaleça a eqüidade e
onde todas as pessoas sejam beneficiadas, especialmente as crianças.
O reconhecimento de reivindicações históricas da comunidade afrobrasileira
implica a efetivação de direitos sociais, civis, culturais e econômicos,
bem como a valorização da diversidade – isso requer transformação de
comportamentos. O (re)conhecimento da sua história e cultura, fonte da
nossa ancestralidade, colabora efetivamente para a desconstrução de mitos,
crenças negativas e discriminatórias.
As repercussões pedagógicas da lei são também políticas, pois, além de
reparar danos que se repetem diuturnamente na história dos afro-descendentes,
dizem respeito à educação de cidadãos para uma sociedade que
respeita e compreende a diversidade como um componente essencial para o
crescimento de um povo. É importante salientar que aqui tratamos de uma
ampliação da estrutura dos currículos escolares para a diversidade cultural,
racial e social do Brasil. É necessária a compreensão de que a lei incita a elaboração
de novas relações entre as pessoas, principalmente entre adultos e
crianças, nos ambientes escolares e no dia-a-dia das atividades pedagógicas
oferecidas pelas escolas. Essa nova compreensão exige uma escola que promova
a inclusão de todos, exercita o direito a uma educação de qualidade,
que inclua o direito de ampliar conhecimentos sem a violência de negar a si
próprio, seu gênero, sua raça, sua orientação sexual, sua religiosidade, suas
deficiências ou o pertencimento a uma determinada área geográfica.
Apoiar essa iniciativa é para nós motivo de orgulho e esperança.
Guillermo Navas Camacho
Coordenador interino
Save the Children UK
Programa da América do Sul
Escritório do Brasil